“Se me matam, ressuscitarei nas lutas do meu povo”.
(Dom Oscar
Romero)
Nos dias 5 a 9 de janeiro de 2013,
na Casa de Retiros dos Palotinos, aconteceu a 14ª Edição do Curso Oscar Romero,
promovido pela Arquidiocese de Santa Maria, RS e organizado pela Equipe
Articuladora das CEB’s. Contou com a presença de aproximadamente 100 pessoas,
entre leigas e leigos, religiosas e religiosos, jovens e padres vindos de
diversos lugares.
O
Curso Oscar Romero tem como objetivo fortalecer a caminhada das CEB’s e do povo
cristão na busca da realização do Reino de Deus; fortificar a luta pela
realização de um novo projeto de sociedade e Igreja; fazer memória dos mártires
e cristãos engajados desde os primeiros tempos até hoje, para entender o nosso
lugar junto ao pobre e excluído e oportunizar uma formação popular e ecumênica,
visando uma transformação libertadora.
O curso iniciou com a temática: A
Caminhada das Comunidades, 50 anos depois do Concílio Vaticano II, na qual o
assessor Teólogo e Biblísta Marcelo Barros deu início as suas colocações, expressando
uma frase de Leonardo Boff “Todo ponto de
vista é sempre a vista de um ponto”. Depois de fazer uma retomada da
história do Concílio, o assessor se dirigiu ao público com um questionamento, a
Igreja tem que mudar ou não tem que mudar? Após alguns minutos de diálogo os
participantes interagiram dizendo que: “a
essência não muda, e a essência é o Reino de Deus e Sua Justiça. O que
precisa-se urgentemente é uma mudança radical, uma abertura das estruturas para
melhor servir aos destinatários do Reino”. Marcelo Barros fez uma bonita
memória da longa caminhada das Comunidades Eclesiais de Base, CEB’s,
referindo-se a participação do povo na Igreja e no meio popular.
O assessor mencionou o real sentido
sobre o Ano da Fé, que é a celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II,
porém houve uma manipulação desvalorizando o caráter do Concílio, que é de um
espírito de mudança, de abertura, de inovação para a Igreja e para as
Congregações Religiosas. Hoje estamos num retrocesso dentro da caminhada da
Igreja, discute-se a necessidade de um novo Concílio, porém, se percebe a necessidade
de vivenciar na prática o Concílio Vaticano II, que expressa Um novo rosto de
Deus. Não tendo medo do Seu rosto que
está expresso na humanidade. “O segredo
de ser jovem – mesmo quando os anos passam, deixando marcas no corpo – é ter
uma causa a que dedicar a vida”. (Dom Hélder Câmara).
O assessor Pe. Benedito Ferraro
trabalhou a Caminhada das Comunidades na Bíblia e nas fontes da fé. Relembrando
a passagem de Ex 3, 7-10, trazendo presente o Deus que caminha e liberta seu
povo. Fazendo memória dos profetas e mártires da Caminhada da Igreja, que se
colocaram na luta contra as idolatrias que representavam o Estado, ou seja,
profetas e profetizas são aqueles que assumem a causa e lutam na defesa dos
oprimidos e marginalizados.
Em seguida o Pe. Benedito apresenta o
método Ver – Julgar – Agir na prática de Jesus que se insere na realidade
social de seu tempo – Ele percorria
todas as cidades e aldeias, pregando o Evangelho do Reino. (Mt 9,35-36). Jesus
inserido no seu tempo, ele é mensagem e é mensageiro. Só tem compaixão quem
percorre o caminho, Jesus assumiu a dor e a luta do povo. É o mesmo Deus do
Êxodo, que vê, ouve e desce para libertar o povo, é sentimento de Javé para com
o povo do Egito e não para consigo mesmo como expressa Ezequiel na passagem 34,
1-10, “Ai dos pastores de Israel que são
pastores de si mesmos!”.
O assessor ressalta em suas colocações
que Jesus é o anúncio do Reino – Jesus
inicia sua pregação pelo Reino, é perseguido por causa do Reino e é morto por
causa deste Reino. Evangeliza os pobres; cegos recuperam a vista; libertação
dos presos; liberdade aos oprimidos e proclamação do ano da graça do Senhor (Lc,
4, 14-21) conforme o programa da atividade de Jesus. Os pobres são
evangelizados porque Jesus ouviu o seu clamor. Evangelho é vida, é dirigido
aqueles que não tem vida, aqueles que estão sem vida, os primeiros
destinatários do Reino de Deus são os pobres. “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes essas
coisas aos sábios e inteligentes, e as revelastes aos pequeninos...” (Mt
11, 25-27). “Precisamos respeitar o
sangue derramado pelos nossos mártires”.
Dom Francisco Silva – Bispo
Anglicano trabalhou a temática educação, sustentabilidade e ecumenismo. O mesmo mencionou que o ecumenismo vive um
momento de crise, que a sociedade assume um materialismo sistemático, devido a
estes fatos o que mais cresce é o número de pessoas que se assumem não-crentes.
Por que nós não estamos mais conseguindo nos tornar relevantes para este
seguimento da sociedade? Se fala contra os outros, contra as religiões, contra as
igrejas. Qual seria o caminho, a trilha pela qual podemos achar uma saída para
sair dessa crise em diálogo ecumênico? Talvez pudéssemos parar, ouvir e
auscultar a sociedade. Queremos dar respostas sem fazer perguntas, sem ouvir as
perguntas do povo. “Evangeliza e se for
necessário fala”, e nós invertemos a lógica, falamos e as vezes
evangelizamos. Por que não escutamos as perguntas que saem da vida e do coração
do povo?
Dando continuidade Dom Francisco
fala, que vivemos uma esquina crucial da história da humanidade, é a realidade.
O mundo pode acabar sim, se continuar como está. Na rio + 20 nosso governo não
conseguiu dar o passo mínimo, nem mesmo está levando a sério a questão da
preservação do planeta, vontade política não existiu e decisões não foram
tomadas. O povo está dizendo o
que quer, mas os nossos representantes estão indo na direção contrária. A
questão da sustentabilidade é algo que precisamos como igreja, como indivíduos,
como sociedade civil levar adiante, o planeta precisa ser respeitado.
Podemos afirmar que não é este o modelo
de sociedade, de gestão dos recursos naturais que Deus deseja para nós. O Deus
dos profetas e das profetizas, diz que o mundo é extensão da sua pessoa. Não
podemos tratar o mundo como teólogos de araque, o ser humano não foi criado
para dominar a terra. Deus nos deu um jardim e nos criou para cuidar desse
jardim, nos deu os valores pelos quais a sociedade deveria se relacionar, como
o respeito, inter-dependência e colaboração.
Como é que nós que somos a Igreja, seguimento
representativo no meio da sociedade, podemos ajudar na inversão desse modelo
que nos angustia, de educação, sociedade, político excludente? Como podemos
interagir com isso?
Protagonismo Juvenil – Desafios e
Perspectivas trabalhado pelo Padre Edinho Thomassin, que para início de
conversa lançou a pergunta: O que entendemos por Juventude e o protagonismo? E
como relacionamos estes dois conceitos? Como compreendemos o protagonismo e o
protagonismo juvenil? Após discussões e reflexões do público obteve-se a
seguinte conclusão que não existe protagonismo intuitivo, ser protagonista na
sociedade é um processo a ser desenvolvido através de estímulos e/ou
influências sobre determinado sujeito ou grup social. É preciso identificar de que realidade
juvenil está se referindo, hoje não podemos dizer a juventude e sim as
juventudes, quando queremos falar sobre um determinado aspecto que caracteriza
estas juventudes. É necessário fazer um recorte, ver cada realidade e se situar
no contexto plural juvenil.

“Caminhada da Igreja (CEB’s) no Brasil,
seus desafios e perspectivas” trabalhado por Waldir Bohn Gass e Ir. Vilma
Pretto. Os assessores fizeram uma breve análise de conjuntura do Brasil, depois
dispuseram do texto CEB’s – Justiça e
Profecia na construção de uma nova ordem mundial de Francisco de Aquino Júnior,
o mesmo foi partilhado na mística da manhã em forma de preces. Em seguida foram
retomado os compromissos assumidos no 13º Encontro Estadual de CEB´s – Justiça
e Profecia a Serviço da Vida, foi proposto sinalizar as prioridades que seriam
possíveis de serem assumidas em nossa prática nas comunidades, tais como:
aprofundar e fortalecer o estudo da identidade das CEB’s, proféticas,
missionárias, democráticas e ecumênicas, divulgar e motivar à participação de
mais pessoas; trabalhar para que as Romarias priorizem a mística e a
espiritualidade a serviço da vida, alicerçada na escuta da Palavra, do
compromisso profético e libertador; promover a Romaria ibertadora das
juventudes; dinamizar espaços que qualifiquem e sintonizem a vida litúrgica das
comunidades com a vida das juventudes, garantindo o protagonismo juvenil,
levando ao engajamento e comprometimento com a realidade dos empobrecidos e das
empobrecidas.
Precisamos ser fermento na massa,
para não deixar morrer a mística e a caminhada das CEB’s.
“As pessoas que
lutam não morrem, mas ficam vivas no meio do povo”.
Irmã Franqueana
Gomes dos Santos, FDC
Irma Letícia
Campagnolo Cavalheiro, ICM
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