segunda-feira, 14 de janeiro de 2013



Se me matam, ressuscitarei nas lutas do meu povo”.
(Dom Oscar Romero)

            Nos dias 5 a 9 de janeiro de 2013, na Casa de Retiros dos Palotinos, aconteceu a 14ª Edição do Curso Oscar Romero, promovido pela Arquidiocese de Santa Maria, RS e organizado pela Equipe Articuladora das CEB’s. Contou com a presença de aproximadamente 100 pessoas, entre leigas e leigos, religiosas e religiosos, jovens e padres vindos de diversos lugares.
            O Curso Oscar Romero tem como objetivo fortalecer a caminhada das CEB’s e do povo cristão na busca da realização do Reino de Deus; fortificar a luta pela realização de um novo projeto de sociedade e Igreja; fazer memória dos mártires e cristãos engajados desde os primeiros tempos até hoje, para entender o nosso lugar junto ao pobre e excluído e oportunizar uma formação popular e ecumênica, visando uma transformação libertadora.
            O curso iniciou com a temática: A Caminhada das Comunidades, 50 anos depois do Concílio Vaticano II, na qual o assessor Teólogo e Biblísta Marcelo Barros deu início as suas colocações, expressando uma frase de Leonardo Boff “Todo ponto de vista é sempre a vista de um ponto”. Depois de fazer uma retomada da história do Concílio, o assessor se dirigiu ao público com um questionamento, a Igreja tem que mudar ou não tem que mudar? Após alguns minutos de diálogo os participantes interagiram dizendo que: “a essência não muda, e a essência é o Reino de Deus e Sua Justiça. O que precisa-se urgentemente é uma mudança radical, uma abertura das estruturas para melhor servir aos destinatários do Reino”. Marcelo Barros fez uma bonita memória da longa caminhada das Comunidades Eclesiais de Base, CEB’s, referindo-se a participação do povo na Igreja e no meio popular.
O assessor mencionou o real sentido sobre o Ano da Fé, que é a celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II, porém houve uma manipulação desvalorizando o caráter do Concílio, que é de um espírito de mudança, de abertura, de inovação para a Igreja e para as Congregações Religiosas. Hoje estamos num retrocesso dentro da caminhada da Igreja, discute-se a necessidade de um novo Concílio, porém, se percebe a necessidade de vivenciar na prática o Concílio Vaticano II, que expressa Um novo rosto de Deus.  Não tendo medo do Seu rosto que está expresso na humanidade.  “O segredo de ser jovem – mesmo quando os anos passam, deixando marcas no corpo – é ter uma causa a que dedicar a vida”. (Dom Hélder Câmara).
O assessor Pe. Benedito Ferraro trabalhou a Caminhada das Comunidades na Bíblia e nas fontes da fé. Relembrando a passagem de Ex 3, 7-10, trazendo presente o Deus que caminha e liberta seu povo. Fazendo memória dos profetas e mártires da Caminhada da Igreja, que se colocaram na luta contra as idolatrias que representavam o Estado, ou seja, profetas e profetizas são aqueles que assumem a causa e lutam na defesa dos oprimidos e marginalizados.
Em seguida o Pe. Benedito apresenta o método Ver – Julgar – Agir na prática de Jesus que se insere na realidade social de seu tempo – Ele percorria todas as cidades e aldeias, pregando o Evangelho do Reino. (Mt 9,35-36). Jesus inserido no seu tempo, ele é mensagem e é mensageiro. Só tem compaixão quem percorre o caminho, Jesus assumiu a dor e a luta do povo. É o mesmo Deus do Êxodo, que vê, ouve e desce para libertar o povo, é sentimento de Javé para com o povo do Egito e não para consigo mesmo como expressa Ezequiel na passagem 34, 1-10, “Ai dos pastores de Israel que são pastores de si mesmos!”.
O assessor ressalta em suas colocações que Jesus é o anúncio do ReinoJesus inicia sua pregação pelo Reino, é perseguido por causa do Reino e é morto por causa deste Reino. Evangeliza os pobres; cegos recuperam a vista; libertação dos presos; liberdade aos oprimidos e proclamação do ano da graça do Senhor (Lc, 4, 14-21) conforme o programa da atividade de Jesus. Os pobres são evangelizados porque Jesus ouviu o seu clamor. Evangelho é vida, é dirigido aqueles que não tem vida, aqueles que estão sem vida, os primeiros destinatários do Reino de Deus são os pobres. “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelastes aos pequeninos...” (Mt 11, 25-27). “Precisamos respeitar o sangue derramado pelos nossos mártires”.
            Dom Francisco Silva – Bispo Anglicano trabalhou a temática educação, sustentabilidade e ecumenismo.  O mesmo mencionou que o ecumenismo vive um momento de crise, que a sociedade assume um materialismo sistemático, devido a estes fatos o que mais cresce é o número de pessoas que se assumem não-crentes. Por que nós não estamos mais conseguindo nos tornar relevantes para este seguimento da sociedade? Se fala contra os outros, contra as religiões, contra as igrejas. Qual seria o caminho, a trilha pela qual podemos achar uma saída para sair dessa crise em diálogo ecumênico? Talvez pudéssemos parar, ouvir e auscultar a sociedade. Queremos dar respostas sem fazer perguntas, sem ouvir as perguntas do povo. “Evangeliza e se for necessário fala”, e nós invertemos a lógica, falamos e as vezes evangelizamos. Por que não escutamos as perguntas que saem da vida e do coração do povo?
            Dando continuidade Dom Francisco fala, que vivemos uma esquina crucial da história da humanidade, é a realidade. O mundo pode acabar sim, se continuar como está. Na rio + 20 nosso governo não conseguiu dar o passo mínimo, nem mesmo está levando a sério a questão da preservação do planeta, vontade política não existiu e decisões não foram tomadas. O povo está dizendo o que quer, mas os nossos representantes estão indo na direção contrária. A questão da sustentabilidade é algo que precisamos como igreja, como indivíduos, como sociedade civil levar adiante, o planeta precisa ser respeitado.
Podemos afirmar que não é este o modelo de sociedade, de gestão dos recursos naturais que Deus deseja para nós. O Deus dos profetas e das profetizas, diz que o mundo é extensão da sua pessoa. Não podemos tratar o mundo como teólogos de araque, o ser humano não foi criado para dominar a terra. Deus nos deu um jardim e nos criou para cuidar desse jardim, nos deu os valores pelos quais a sociedade deveria se relacionar, como o respeito, inter-dependência e colaboração.
Como é que nós que somos a Igreja, seguimento representativo no meio da sociedade, podemos ajudar na inversão desse modelo que nos angustia, de educação, sociedade, político excludente? Como podemos interagir com isso?
Protagonismo Juvenil – Desafios e Perspectivas trabalhado pelo Padre Edinho Thomassin, que para início de conversa lançou a pergunta: O que entendemos por Juventude e o protagonismo? E como relacionamos estes dois conceitos? Como compreendemos o protagonismo e o protagonismo juvenil? Após discussões e reflexões do público obteve-se a seguinte conclusão que não existe protagonismo intuitivo, ser protagonista na sociedade é um processo a ser desenvolvido através de estímulos e/ou influências sobre determinado sujeito ou grup social.  É preciso identificar de que realidade juvenil está se referindo, hoje não podemos dizer a juventude e sim as juventudes, quando queremos falar sobre um determinado aspecto que caracteriza estas juventudes. É necessário fazer um recorte, ver cada realidade e se situar no contexto plural juvenil.
Pe. Edinho fez um apanhado geral sobre a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), dizendo que este é um evento de massa, e que pode correr o risco de não ficar nada que possa ajudar o jovem na sua formação. Deveria ser um espaço de discussão sobre as problemáticas que acompanham as nossas juventudes e não meramente um megaevento. Podemos aproveitar esse evento e trabalhar a Campanha Nacional Contra a Violência e Extermínio de Jovens que em subsídio nenhum da JMJ menciona esta problemática juvenil, que foi abraçada no ano de 2008 por uma Comissão da Casa da Juventude (CAJU), que é fruto da indignação crescente do grande índice de mortes de jovens no campo e na cidade, e em todos os cantos do país. Um outro espaço que temos é a Campanha da Fraternidade 2013, com lema “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8). O assessor nos questionou para que esta prontidão? Envia-me para onde? Quais as realidades juvenis que clamam na nossa realidade? Não podemos ficar na ideia de somente trazer mais jovens para dentro de nossas Igrejas, mas sim nos preocupar em resgatar a vida e a dignidade das nossas juventudes, vítimas da grande violência institucionalizada. Jesus nos mostra que temos que ter zelo pelos jovens, não numa atitude paternalista, nem infantilizando-os, mas promovendo-os como pessoas que almejam protagonizar a própria vida. Promover neles a construção de um projeto de vida e oferecer-lhes condições reais para isso continuar sendo um desafio para a Igreja e para todos os setores da nossa sociedade.


“Caminhada da Igreja (CEB’s) no Brasil, seus desafios e perspectivas” trabalhado por Waldir Bohn Gass e Ir. Vilma Pretto. Os assessores fizeram uma breve análise de conjuntura do Brasil, depois dispuseram do texto CEB’s – Justiça e Profecia na construção de uma nova ordem mundial de Francisco de Aquino Júnior, o mesmo foi partilhado na mística da manhã em forma de preces. Em seguida foram retomado os compromissos assumidos no 13º Encontro Estadual de CEB´s – Justiça e Profecia a Serviço da Vida, foi proposto sinalizar as prioridades que seriam possíveis de serem assumidas em nossa prática nas comunidades, tais como: aprofundar e fortalecer o estudo da identidade das CEB’s, proféticas, missionárias, democráticas e ecumênicas, divulgar e motivar à participação de mais pessoas; trabalhar para que as Romarias priorizem a mística e a espiritualidade a serviço da vida, alicerçada na escuta da Palavra, do compromisso profético e libertador; promover a Romaria ibertadora das juventudes; dinamizar espaços que qualifiquem e sintonizem a vida litúrgica das comunidades com a vida das juventudes, garantindo o protagonismo juvenil, levando ao engajamento e comprometimento com a realidade dos empobrecidos e das empobrecidas.
Precisamos ser fermento na massa, para não deixar morrer a mística e a caminhada das CEB’s.
“As pessoas que lutam não morrem, mas ficam vivas no meio do povo”.
Irmã Franqueana Gomes dos Santos, FDC
Irma Letícia Campagnolo Cavalheiro, ICM

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